segunda-feira, 25 de abril de 2011

O presidente sumiu

O avião presidencial já havia levantado vôo e rumava para a nação mais importante do planeta quando a secretaria do presidente bambambã veio falar-lhe sobre sua agenda quando pousasse novamente em solo pátrio. Junto dela, uma legião de aspones e puxa-sacos. Após ela pedir licença e sentar-se próximo, ele limitou-se a balançar a cabeça.
– Assim que o senhor desembarcar, irá se reunir com um grupo de investidores do norte do país.
O presidente sorriu amarelo.
– Eu não entendi – respondeu em português.
A secretária logo exclamou.
– Ele é um gênio mesmo. Passou dois dias em um país estrangeiro e já aprendeu o idioma local.
Representantes dos aspones, sempre alarmistas, porém, discordaram:
– Meu Deus, seu sorriso está amarelo. Deve ter pego alguma doença tropical que lhe afetou o entendimento.
O presidente, atônito e sem entender todo o burburinho, apenas observava, quando a primeira dama deu o veredicto final.
– É um impostor. Este não é o meu marido. Não é o presidente.
O burburinho aumentou:
– Foi seqüestrado!
A confusão estava apenas começando. O chefe da segurança foi chamado junto com o tradutor. E começou a inquisição sobre o sósia que se passara pelo número um do planeta.
– Onde está o presidente? – perguntou o triplex da segurança por meio do tradutor.
– Não sei ¬– respondeu o sósia.
– Como não sabe? Como o senhor chegou até aqui?
– Eu fui no banheiro do aeroporto dar uma barrigada quando o seu chefinho entrou. Nos olhamos e logo notamos que somos muito parecidos. Ele fez sinais para que trocássemos de roupa e me mandou sair. Depois, não consegui falar mais nada. Vocês me trouxeram para cá.
O triplex da segurança gritou por outro brutamontes:
– Billllllllllllllllllllllllllll!!!!!!! Eu não falei para você verificar cada centímetro daquele banheiro?
O subordinado respondeu:
– Não consegui entrar, senhor. O cheiro era insuportável. Achei que seria impossível alguém estar lá.
O chefe da segurança ordenou:
– Vamos voltar. O presidente foi seqüestrado, chamem a nossa marinha, nossa aeronáutica e nosso exército. Vamos encontrá-lo.
O piloto deu meia-volta na aeronave e logo estava novamente pousando no aeroporto local, sendo recebido pelas autoridades festivas. O chefe da segurança foi logo perguntando:
– Cadê o nosso presidente?
– Na última vez que o vimos, ele estava subindo neste avião – disse o manda-chuva local.
– Não era ele – retrucou o estrangeiro.
– Como não era ele? Todo mundo viu. Vocês, inclusive, o arrastaram para dentro.
– Era este impostor – jogou o sósia aos pés da autoridade, que o pegou pela orelha e ordenou à polícia local:
– Interrogue ele?
– Já pro pau de arara, sem-vergonha fajuto – disse o policial.
– Alto lá, meu amigo. Isto é com a gente. Nós vamos procurar o presidente. Saiam da frente – determinou o chefe da segurança do sumido.
Três dias depois, a confusão não tinha uma resposta. As mais modernas técnicas de investigação e as aparelhagens de última geração não foram capazes de encontrar o presidente. Foi quando Ferreira, um franzino policial local, adentrando a sala de comando das operações, se meteu na história.
– Eu acho o presidente.
Todos o olharam e ele continuou.
– Deixa com a minha equipe e logo encontraremos a figura aí.
– Não é hora para brincadeiras. Como você saberá onde está o presidente? – perguntou o chefe de segurança.
– Isto é comigo.
– Eu pago para ver – concluiu o estrangeiro.
Ferreira passou a mão no telefone e fez uma ligação estranha:
– E aí, Lingüiça! É o Ferreira. Você já viu o noticiário. Onde está o gringo?
E voltando-se para a legião de policiais e autoridades indagou:
– Eu não disse? Minhas fontes são excelentes.
O estrangeiro quis saber:
– Quem é esse Lingüiça?
– É um X9, meu camarada.
– X o que? – perguntou sem entender o chefe da segurança gringa.
Ferreira, convocou:
– Vamos!
E saiu com um verdadeiro batalhão a segui-lo.
À bordo de um dos dez helicópteros da operação para resgatar o presidente, Ferreira dava as ordens.
– Vamos lá piloto, segue para ali. Sobrevoa aquele morro. Agora vai baixando.
E voltando-se para o operador do sistema de iluminação da aeronave, ordenou:
– Agora é com você. Ilumina aquela laje ali. Aquela cheia de gente.
Logo o clarão se estendeu no ambiente onde rolava uma grande festa. Havia caixas e caixas de cerveja, churrasco liberado e mulheres maravilhosas sambando com suas microssaias.
– Não falei? Olha o homem lá.
E todos comprovaram. No churrascão que rolava, o presidente bambambã se esbaldava com um grande amigo barbudo, o ex-presidente local.

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