quarta-feira, 8 de junho de 2011

Direito humano

A polícia encontrou o número 1 do tráfico de drogas na cidade. A casa de Trabucão estava cercada. Lá dentro, o bandido curtia suas mordomias sem nada saber, até que a lei entrou no aparente casebre.
– Perdeu, Trabucão! – Gritou Dr. Xavier, delegado conhecido por grandes prisões.
Sem nada entender, o bandido foi pego literalmente com as calças na mão. Ainda tentando colocar a bermuda, Trabucão pergunta ao chefe de sua segurança pessoal o que estava acontecendo.
– O que é isso Portuga?
O subalterno, levado pela orelha pelo inspetor Saraiva, responde:
– Os “homi” cercaram o morro há dois dias. Vieram com helicóptero, armamento pesadíssimo e até tanque de guerra. Não conseguimos evitar. Só não avisamos porque o senhor falou que não queria ser incomodado neste fim de semana.
– Vasculhem a casa! – Ordenou Dr. Xavier a sua equipe.
Logo, um grupo trouxe Fifi. Enrolada num lençol e com os longos e loiros cabelos molhados, a acompanhante de Trabucão chamou todas as atenções da polícia. Era linda. Tinha uma pele de seda, os olhos azuis, uma boca carnuda e um corpo que, mesmo coberto, revelavam seios siliconados e uma bunda avantajada.
Fifi despertou tanto a atenção que por muito pouco Trabucão e Portuga não deram no pé. O azar da dupla é que o inspetor Rosinha não se interessava pelos dotes da loira. O policial estava intrigado querendo saber se o Trabucão era de cano curto ou longo.
– Os bofes vão aonde? – Rosinha interrompeu a fuga da dupla.
Neste instante, chegam as equipes de televisão, e Trabucão logo reage, tentando esconder o rosto, nunca revelado antes:
– Tirem esses caras daqui.
– Tá querendo preservar a identidade, mané? – Vociferou inspetor Saraiva, pegando o bandido pelo queixo e mostrando em rede nacional.
– Pô, larga aí, tô querendo preservar minha integridade. Isto sim.
– Fica na tua. É melhor assim. O mundo todo tá vendo que pegamos você sem esculhachar.
Algemados, Trabucão e Portuga foram colocados na caçamba. Fifi, após vestir sua microssaia e seu top e pôr seu tamanco salto 18, sentou-se ao lado do Dr. Xavier, no banco de trás da viatura. Saraiva acelerou a viatura rumo à delegacia policial.
Do outro lado da cidade, Idalina, com lenço na cabeça e vassoura em punho, ainda estava atônita com o que vira na TV enquanto varria seu humilde cafôfo. Reagiu:
– Cachorro, salafrário, desgraçado ... – Vociferou, saindo de casa apressadamente.
Na sala do delegado, Trabucão, até então, encarando de frente cada agente da lei, amarelou ao ver a cena. Idalina foi derrubando cada policial até estourar o vidro divisor da sala do mandatário da delegacia. O bandidão ajoelhou-se e chorou:
– Perdão, Dadá!
Dr. Xavier perguntou:
– Saraiva, quem deixou esta senhora entrar aqui?
– Doutor, nem a Força Nacional conseguiu detê-la. – Respondeu o inspetor.
– Perdão, canalha! – Idalina estava furiosa e partiu para cima de Trabucão.
Ninguém foi capaz de parar a dona-de-casa.
Na apresentação do chefão do tráfico para a sociedade, todos ficaram surpresos. A polícia apresentou Trabucão com os dois braços quebrados, sentado numa cadeira de rodas, os olhos roxos e com 97 pontos só no rosto.
A imprensa logo perguntou:
– Foi esse cara mesmo que vocês prenderam. Ele é mesmo o Trabucão?
Sem graça, Dr. Xavier respondeu:
– É ele mesmo. Tivemos um contratempo. Está diferente, né?
Uma repórter exaltada:
– E os direitos humanos. Ele foi preso inteiro e está todo quebrado.
Dona Idalina, ou Dadá, entrou na história:
– Direitos humanos? E os meus direitos humanos? Aliás, você tem razão foi um direito humano. Este aqui.
Exibindo o braço, Dadá continuou:
– Um autêntico direito humano.

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