quarta-feira, 22 de junho de 2011

Domingo de marchas

Juju e Pedrão curtiam o luar do sábado e planejavam o próximo programa.
– Que tal passearmos amanhã na praia, amor? – sugeriu a sempre comportada mulher.
Pedrão tentou se esquivar da sugestão.
– Estamos no inverno. Está frio.
– Mas todo mundo está dizendo que as manhãs na orla são quentíssimas. Todo domingo tem uma passeata divertida, uma marcha, como dizem agora. Esta semana foi uma dos machões. Reivindicaram poder cuspir no chão, arrotar em público e colar meleca debaixo das mesas sem qualquer censura.
– Já vi algumas dessas pelo jornal –, comentou Pedrão.
– Então, vamos ver como é ao vivo. Será divertido.
De tanto insistir, Juju convenceu o novo namorado. E, no dia seguinte, ela e Pedrão desciam do ônibus bem próximo ao calçadão, logo avistando vários grupos que iam em direções diferentes.
Já na orla, Juju viu um grupo que vinha em sentido contrário em altíssima velocidade e comentou com seu amado:
– Olha aqueles rapazes. São todos negros, devem estar protestando contra o racismo. Mas poderiam ir mais devagar, assim ninguém consegue acompanhá-los.
Pedrão explicou:
– Eles não estão fazendo passeata. São competidores de uma maratona.
– Mas só este grupinho se inscreveu? – perguntou Juju.
– Não. Estes são os quenianos. Daqui a meia-hora os outros vão passar.
Juju olhou em outra direção.
– Mas aqueles ali estão devagar, devem estar lutando por algo. Acho que são os papais noéis da cidade, estão todos de vermelho. Devem estar lutando para poder usar roupas mais leves.
– Juju, aqueles são os bombeiros. Ganham uma mixaria.
– Legal, eu apóio. Vamos segui-los.
O casal seguiu os bombeiros e seus simpatizantes, bradando gritos de guerra, balançando bandeiras ... se divertindo com os muitos personagens que acompanhava o protesto.
De repente, em sentido contrário, os bombeiros cruzam com uma outra marcha. Encantada com o astral despojado do outro grupo, Juju convence Pedrão a ir com eles. Havia muitas figuras, como um sósia do Bob Marley. Uma densa fumaça que acompanhava a passeata, contudo, impedia que muitos destes personagens fossem vistos. Aliás, o grupo queria justamente sair de onde se escondia.
Os manifestantes daquela passeata, literalmente, eram o maior barato, tinham um ótimo astral, mas Juju queria participar de outras marchas. O menu estava recheado. Havia protesto para tudo, até um grupo que preferiu ficar na pracinha próxima jogando dominó. Eram os aposentados lutando pelo direito de permanecer na esquina, de pijama, batendo papo, sem serem importunados pelos filhos. Aliás, apenas um participante, o único novinho, prosseguiu na manifestação. Como mentor e tesoureiro da turma, precisava justificar o altíssimo gasto com a iniciativa, embora só trouxesse nas mãos um cartaz feito com cabo de vassoura e cartolina.
No vai-e-vem de manifestantes, Juju encontrou Jefinho, seu ex-namorado.
– Você por aqui? Veio curtir o domingo? – perguntou Juju.
– Na verdade, vim lutar por meus direitos. Qual a sua causa? – disse Jefinho.
– Eu e o Pedrão viemos apenas nos divertir. Todo mundo comentava que a manhã de domingo aqui era bastante animada.
– O Pedrão vir aqui para se divertir? Eu marquei de me encontrar com ele.
– Você conhece o Pedrão? – indagou Juju.
– Claro. Aliás – pegando Pedrão pelo braço –, vamos, amor. A marcha pela legalização do casamento gay está começando.
E os dois saíram de mãos dadas pelo calçadão.

2 comentários:

  1. olá David,
    gostei muito da proposta do blog ^^
    já estou seguindo
    =)
    aparece por aqui:
    deniseoliveiras.blgospot.com
    bjo

    ResponderExcluir
  2. segui meu blog ai http://dedentrodaalma-bianka.blogspot.com/

    ResponderExcluir